Operação Desafino investiga golpe milionário contra compositores sertanejos com uso de IA e falsificação de músicas em plataformas digitais
Uma operação conduzida pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) desmantelou um esquema complexo de crimes cibernéticos e violações de direitos autorais que vitimou dezenas de compositores sertanejos, causando prejuízos superiores a R$ 6 milhões. O caso, investigado pela operação Desafino, envolve crimes como falsa identidade, estelionato e uso de inteligência artificial (IA) para a apropriação indevida de canções.
O golpe atingiu principalmente compositores residentes em Goiás, berço de muitos dos maiores artistas sertanejos do Brasil, e incluiu músicas reproduzidas milhões de vezes em plataformas de streaming.
Como o Golpe Funcionava
O esquema era sofisticado e aproveitava a vulnerabilidade no processo de criação e envio de músicas no mercado musical. Veja as etapas:
- Composição: Compositores criavam novas músicas e gravavam guias simplificadas, usadas para apresentar as canções a produtores ou artistas.
- Apropriação indevida: As guias eram interceptadas por criminosos, que usavam documentos falsos e inteligência artificial para modificar dados das músicas, publicando-as em plataformas digitais sob nomes falsos.
- Publicação em plataformas: As canções, de alta qualidade, eram carregadas em serviços de streaming com perfis falsos, gerando milhões de reproduções.
- Lucro ilícito: O dinheiro arrecadado com direitos autorais era direcionado para contas bancárias ligadas aos criminosos.
A ousadia do grupo era tamanha que músicas de compositores renomados, incluindo gravações com a voz de artistas famosos, foram postadas como se pertencessem a artistas fictícios.
Uso de Inteligência Artificial no Crime
A investigação revelou que o esquema utilizava ferramentas de inteligência artificial para falsificar elementos das músicas e dar credibilidade ao golpe. Entre as práticas, estavam:
- Criação de capas de álbuns com IA.
- Postagem de músicas com vozes femininas atribuídas a artistas falsos masculinos.
- Inclusão de “assinaturas” dos compositores reais e títulos originais nos arquivos enviados às plataformas, como se pertencessem a artistas fictícios.
Essas estratégias sofisticadas dificultavam a identificação do golpe pelos compositores e pelas plataformas de streaming, prolongando os lucros ilícitos.
Prejuízos para as Vítimas
O golpe causou prejuízos financeiros e imateriais significativos para os compositores envolvidos. Além de perderem o retorno financeiro pelas execuções das músicas, os artistas sofreram com a exposição indevida de obras não finalizadas e com a violação de sua propriedade intelectual.
Segundo o CyberGaeco, mais de 400 músicas foram afetadas, acumulando aproximadamente 30 milhões de visualizações em plataformas digitais.
Entre as vítimas estão compositores como Valéria Costa, Wallas Dias, Daniel Decc e Higor Netto, que perderam parte de suas obras e tiveram que lidar com a incerteza sobre quais músicas foram apropriadas no esquema.
Ações da Operação Desafino
A operação Desafino já cumpriu:
- Mandados de busca e apreensão em Recife (PE) e Passo Fundo (RS).
- Mandado de prisão preventiva emitido pela 1ª Vara das Garantias de Goiânia (GO).
- Sequestro de bens no valor de R$ 2,3 milhões, incluindo veículos e criptomoedas.
Além disso, foi decretado o bloqueio de contas bancárias ligadas aos investigados para evitar que os lucros ilícitos continuassem circulando.
Denúncia e Colaboração
O caso começou com uma denúncia feita por uma vítima e foi impulsionado por um trabalho de jornalismo investigativo. O Ministério Público de Goiás destacou a importância da colaboração entre os Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Pernambuco, Rio Grande do Sul e Goiás, que atuaram em conjunto para identificar os responsáveis.
A Gravidade do Caso
O MPGO enfatizou que o golpe era estruturado de forma a dificultar a identificação dos criminosos e que sua escala ultrapassava fronteiras estaduais. A inserção de músicas em plataformas digitais sem autorização das vítimas não só causou prejuízos financeiros, mas também criou um ambiente de desconfiança no mercado sertanejo, prejudicando o trabalho de compositores e produtores.
Um Alerta para o Mercado Musical
O caso expõe a necessidade de maior controle e segurança no processo de envio e publicação de músicas nas plataformas digitais. Especialistas sugerem que compositores adotem medidas como registros mais rígidos de suas criações e o uso de sistemas criptografados para envio de guias.
O Futuro das Investigações
Com as apurações ainda em andamento, espera-se que o caso leve a uma revisão de práticas no mercado musical e que os responsáveis sejam levados à Justiça. A operação Desafino promete trazer novas revelações sobre o uso de tecnologia em esquemas criminosos e reforça a importância de combater crimes cibernéticos no setor cultural.